Pretensão de ocupar o cargo máximo do Executivo acabou virando sonho abortado; agora, ele mira candidatura em MS
Antipetista implacável, o ex-ministro da gestão de Bolsonaro, o campo-grandense Luiz Henrique Mandetta (Saúde), 57, que de julho de 2020 até dezembro do ano passado costurava alianças para compor chapa e tornar-se pré-candidato à sucessão de seu ex-chefe, Jair Bolsonaro, do PL, vive hoje no aguardo de pesquisas que devem indicar a que mandato deve brigar.
Ex-DEM, agora integrante do União Brasil, legenda surgida da fusão com o PSL, Mandetta foi forçado a dar uma marcha ré em sua aspiração política e deve encarar aqui em Mato Grosso do Sul a disputa pela única vaga para o Senado ou a uma das oito cadeiras da Câmara dos Deputados.
A reportagem tentou ouvi-lo ontem à tarde, mas as ligações não eram completadas.
O União Brasil informou que as portas do partido estão abertas ao ex-ministro. Sábado, o presidente nacional do partido, Luciano Bivar, participa da filiação e lançamento da pré-candidata Rose Modesto, ainda deputada do PSDB, ao governo.
Deputada Federal, Rose disse que não é mais tucana. Ainda no sábado, Bivar nomeia a senadora Soraya Thronicke como a presidente regional da sigla nova.
O Correio do Estado apurou que Mandetta espera o resultado de uma pesquisa em curso que deve apontar as chances do ex-ministro, se melhor ele concorrer ao Senado ou ao mandato de deputado federal.
Ao menos por enquanto, somente duas pré-candidaturas foram lançadas para senador: a da ministra Tereza Cristina (Agricultura), do PP, outra campo-grandense, e a do ex-juiz federal Odilon de Oliveira, hoje no PSD.
Mandetta e Tereza eram do mesmo partido, o DEM, e mantinham estreitos laços políticos – mal sinal, caso o levantamento das intenções de votos dos sul-mato-grossenses recomende que o ex-ministro deva concorrer ao Senado.
E se o estudo eleitoral apontar para o ex-ministro disputar a vaga na Câmara Federal, ele terá de competir com o primo Fábio Trad, deputado federal do PSD, pré-candidato à reeleição no parlamento.
QUERO SER PRESIDENTE
Mandetta era um obediente ministro da gestão Bolsonaro até que apareceu a avassaladora Covid-19, doença que já matou mais de 650 mil brasileiros, quase 10,5 mil em Mato Grosso do Sul.
Por divergências na questão do isolamento social, medida capaz de reduzir o avanço da pandemia, Bolsonaro demitiu Mandetta na metade de abril de 2020, período em que a Covid-19 havia matado perto de 2 mil brasileiros. Mandetta era favorável ao distanciamento, mas o mandatário não.
Mandetta, ao pedir atenção nos cuidados contra a doença, aparecia nos jornais, sites e tevês bem mais que o presidente, que se irritou com isso.
Em um domingo, o ex-ministro deu longa entrevista ao Fantástico, programa da Rede Globo, tida pelo presidente como inimiga sua.
Na quinta, quatro dias depois, Bolsonaro mandou embora o até ali ministro.
Dia 16 de abril de 2020, em uma coletiva de imprensa, à tarde, Mandetta falou que já não era mais ministro. Havia uma expectativa acerca de seu discurso, que, 1 hora antes, pela rede social, em clima ameno, escreveu a seguinte mensagem:
“Acabo de ouvir do presidente Jair Bolsonaro o aviso da minha demissão do Ministério da Saúde. Quero agradecer a oportunidade que me foi dada, de ser gerente do nosso SUS, de pôr de pé o projeto de melhoria da saúde dos brasileiros e de planejar o enfrentamento da pandemia do coronavírus, o grande desafio que o nosso sistema de saúde está por enfrentar”, frisou.
HISTÓRICO
Luiz Henrique Mandetta é médico, com pós-graduação nos Estados Unidos. Foi deputado federal por dois mandatos. Antes, de 2005 a 2010, chefiou a Secretaria Municipal de Saúde Pública, período da gestão do primo Nelsinho Trad, hoje senador pelo PSD.
Mandetta e o primo foram processados por suposto desvio de recurso por não ter posto em prática, completamente, um programa de agendamento de consultas e integração da saúde, conhecido como Gisa.
SARRO EM DILMA
Mandetta, como deputado federal, integrou o grupo de políticos que tirou a ex-presidente Dilma Roussef do poder. Na época, em agosto de 2016, ele e outros colegas de parlamentado apareceram sorridentes segurando cartazes com ditos, do tipo “tchau, querida”.
Assim que exonerado, notícias, comprovadamente falsas, exibiram a fotografia de Mandetta segurando o cartaz com o troco: “Tchau, querido”. A imagem, falsa, apareceu nas redes sociais como se fosse postada pela ex-presidente Dilma Rousseff.
SAIBA
A mudança do domicílio eleitoral de Mandetta para o Rio de Janeiro foi cogitada pelo DEM, sendo ele um dos puxadores de voto do partido. Contudo, o nome esfriou, e ele retorna para a política de MS.
Fonte: CELSO BEJARANO Correio do Estado