Somente neste ano, o estado já contabiliza 29 casos de afogamento e apenas três resgates de vítimas com vida

Os dados divulgados pelo Comando de Bombeiros do Interior (CBI) e pelo Comando Metropolitano de Bombeiros (CMB) revelam uma preocupante tendência de aumento nos casos de afogamento em Mato Grosso do Sul. Em 2022, foram registrados 65 casos, número que aumentou para 108 em 2023. E até o dia 12 de março de 2024, o estado já contabiliza 29 casos, dos quais apenas três resultaram em resgates bem-sucedidos.

Este aumento significativo, que representa uma média de 66,15% de crescimento de 2022 para 2023, levanta sérias preocupações para o ano de 2024, especialmente diante das ondas de calor que assolam a região. O Corpo de Bombeiros Militar de Mato Grosso do Sul (CBMS) alerta que o aumento das temperaturas pode incentivar uma maior procura por atividades aquáticas, aumentando consequentemente os riscos de afogamento.

As estatísticas nacionais, compartilhadas pela Sociedade Brasileira de Salvamento Aquático (SOBRASA), destacam a gravidade do problema. A cada uma hora e meia, um brasileiro perde a vida por afogamento.

Homens têm uma taxa de mortalidade 6,7 vezes maior, e 45% das vítimas têm menos de 29 anos. O afogamento é a principal causa de morte entre crianças de 1 a 4 anos, a segunda entre 5 a 9 anos, a terceira entre 10 a 14 anos, e a quarta entre 15 a 24 anos. Crianças menores de 9 anos são mais propensas a se afogarem em piscinas e residências.

A prevenção é fundamental e pode evitar até 99% dos afogamentos, conforme ressalta a SOBRASA. Existem duas abordagens principais: a prevenção ativa, que envolve intervenções no ambiente aquático como restrição de acesso, sinalização e presença de guarda-vidas, e a prevenção reativa, que se concentra em mudanças comportamentais, como orientações sobre o risco de afogamento e a importância da supervisão constante, especialmente de crianças em meio líquido.

É essencial que a população esteja ciente dos perigos e adote medidas preventivas, especialmente em momentos de lazer junto a ambientes aquáticos. A conscientização, aliada a uma infraestrutura adequada e à supervisão atenta, são cruciais para evitar tragédias relacionadas ao afogamento em Mato Grosso do Sul e em todo o país.

Prevenção

Arquivo pessoal

Em entrevista exclusiva ao Correio do Estado, a profissional em Educação Física, Christiane Olazar Nantes, compartilha dicas cruciais sobre como a prática da natação pode prevenir acidentes em diversos ambientes aquáticos, desde piscinas até lagos e rios. Christiane destaca a importância dessa atividade em todas as faixas etárias, ressaltando seus benefícios na promoção de técnicas de sobrevivência e defesa em meio aquático.

“A natação é muito importante em todas as idades pois desenvolve técnicas de sobrevivência e de defesa em meio aquático. Na infância, as crianças aprendem a seguir regras, como não correr em volta da piscina, não entrar na piscina sozinho, só entrar na piscina pela escada, que só pode entrar na piscina com o papai, com a mamãe, com a vovó ou com a professora. Nunca entra na piscina sozinho. Então esse tipo de orientação salva vidas”, destaca Christiane.

Arquivo pessoal

Conforme a profissional, o maior risco e o índice de morte hoje é com relação a acidentes com ralos na piscina.

“O ralo, o poder de sucção dele é muito alto e ele prende, na maioria das vezes, o cabelo das meninas, mas pode acontecer com meninos também, tornando esse acidente fatal. Então, o cuidado com o ralo, a orientação dos pais e a grade de proteção que é orientada, é de fundamental importância para evitar esse tipo de acidente. E essa orientação pode sair de casa, uma conversa com os pais, antes de ir ao clube, antes de uma festa, na piscina de casa mesmo, sempre está orientando, cuidado com ralo, não cheguem perto do ralo, toda piscina tem um ralo, o ralo é perigoso”, alerta.

Por fim, Christiane orienta que nunca se deve tentar fazer salvamento por afogamento sozinho. “O mais importante em casos de rio é pedir um socorro para uma pessoa responsável. Liga, aciona o bombeiro, pede a orientação de um adulto perto. Quando você tenta fazer esse salvamento sozinho, você aumenta o risco de mais um óbito de morte”, orienta a especialista.

Lei Ravi

cabe destacar que Campo Grande possui em vigor a ‘Lei Ravi’ que torna obrigatório o uso de coletes salva-vidas para crianças em clubes de Campo Grande. Sua criação ocorreu após a perda trágica de Ravi, que faleceu por afogamento em outubro de 2020.

“É uma ferida que nunca sara”, compartilha a mãe Cintia, enquanto reconhece que a legislação imposta, que exige o uso do item de segurança para crianças até seis anos, pode ser crucial na prevenção de futuras tragédias. Ela expressou sua gratidão ao vereador Júnior Coringa, do PSD, por ter proposto a legislação.

A Lei complementar 762/21, que leva o nome da vítima – Ravi Loureiro Lopes Lins, estabelece a obrigatoriedade do uso do colete salva-vidas em áreas de banho ou natação com profundidade superior a 1,30m.

“Se essa lei já estivesse em vigor, mesmo em piscinas rasas, Ravi estaria conosco. Em nome da minha família, expresso profunda gratidão pela homenagem que certamente salvará muitas crianças de acidentes”, ressaltou Cintia.

Sobre o caso – O incidente ocorreu em um domingo, 18 de outubro de 2020, quando Ravi estava com seus pais em um clube aquático na saída de Campo Grande para Três Lagoas.

Em um momento de desatenção, o pequeno se afastou de seus responsáveis e caiu em uma das piscinas, permanecendo submerso por aproximadamente 60 segundos antes de ser resgatado por um guarda-vidas do local.

Apesar dos esforços de socorro do Samu e do hospital, Ravi faleceu no dia 25 daquele mês, aprofundando ainda mais a dor de sua família.

Fonte: SUELEN MORALES Correio do Estado